
Televisão, dengue e falta de criatividade
A verdade é que sempre fui muito ligado à televisão. As cores me fascinavam, mesmo porque tive a sorte de conhecer a TV colorida, com seu mundo particular, suas cores encantadoras... A televisão preta e branca que ficava num canto qualquer da cozinha em nada chamava a minha atenção, em nada despertava minha curiosidade. Não tinha o mesmo brilho que me encantava, os movimentos pareciam se arrastar, era diferente, indescritível... sensação diferente da que a empregada lá de casa sentia: a TV ficava em cima de uma mesa, decorada com uma toalha bordada e um vaso de flores, definitivamente eram sentimentos distintos
Desde pequeno ouvia o plim-plim da Globo, a vinheta do Chaves ou a abertura do Jornal Nacional e me envolvia de um jeito único, particular demais para as outras pessoas entenderem. Corria, dialogava com a tela, com os personagens da novela das oito, ria com os personagens de Chico Anysio e era feliz. Sim, feliz vendo televisão, e não deixava de jogar gude, soltar pipa ou jogar Jogo da Vida, War, Banco Imobiliário...
A TV também foi durante muito tempo uma rede de relacionamentos para mim... Calma, eu explico; comecei a conhecer pessoas novas, rostos diferentes e lugares distintos, “ouça alto, enxergue colorido”, o volume sempre no máximo! Inglaterra, França, Estados Unidos, Ceará, Piauí e Pernambuco, extremos e opostos sempre se confundiram dentro da telinha, criando em minha mente um mundo encantado!
Vi Tarcísio, Glória, Tony, Cuoco, Lima Duarte e Sinhozinho Malta, Regina Duarte e a impagável Viúva Porcina. Novelas sempre fizeram parte da minha rotina, os vilões e os mocinhos, dos choros incontidos aos risos rasgados, Beto Rockfeller, Laurinha Figueroa, Memorial de Maria Moura...
Os auditórios também sorriram com Chacrinha, Silvio Santos gritando “Roqueeeeee” e sempre pedindo uma ajuda a Lombardi, gogó de ouro do patrão... E assim foram as tardes de sábado com Raul Gil, Bolinha e suas sensuais assistentes e as noites intermináveis de Fausto Silva, com o saudoso Perdidos na Noite.
Hoje a televisão me entedia, dá náuseas, causa desconforto. É um tal de deitar e zappear de lá para cá, de ouvir baboseiras, cansaço físico e emocional. Prefiro ler, e não sou um ativista de campanhas que pedem para desligar a TV e estimulam a leitura. Cada um tem livre arbítrio para escolher o que quer fazer...
Na falta do que escrever, era isso mesmo; em tempos de dengue e epidemias, consegui sair ileso, pelo menos por enquanto!